terça-feira, 10 de abril de 2012

"poderá ter morrido. ressuscita"

poderá ter morrido. ressuscita
  
poderá ter morrido. ressuscita
neste lugar humano, pobre fio
de água verbal que vai a medo, hesita,
e teme desmedir-se como um rio.
  
e muita coisa nele se derrama,
dita e não dita, pressentida, densas
aluviões, emaranhada trama
de obscuras raízes e presenças.
  
virão dias, semanas, meses, anos,
e os ciclos dos astros indiferentes,
mover-se-ão na mesma os oceanos
e as placas que sustentam continentes.
  
mola do mundo, o coração aviva
a chama desta lâmpada votiva.
Vasco Graça Moura (2001), sonetos familiares - lâmpada votiva, Poesia 1963-1995, Círculo de Leitores 

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