segunda-feira, 30 de março de 2020

Primavera, flores e poesia...



Fotos - Qta do Rossio





















a jardineira

não sei como ela sabe o que está certo
para o jardim nas estações do ano,
e compra bolbos numa inglesa, perto
de nossa casa, e vai fazendo o plano

de caminhos, canteiros, trepadeiras
e arbustos que esqueci, tufos de hortênsias,
renques de rosas, fúcsias, japoneiras,
vermelho, branco, azul, lilás, violências

da túlipa amarela, e nesse reino,
de sapatos de ténis e de luvas,
chapéu de palha e fato gris de treino,
vai governando aos ventos, sóis e chuvas,

e põe junto às sementes, pá na mão,
ao pé da expectativa do coração.


Vasco Graça Moura, Poesia 1963-1995, p. 443































Voltas a mote alheio

Verdes são os campos
Da cor do limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.


Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gado que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís de Camões, Lírica, p.107