- Então, é melhor ser uma estrela? - quis saber Lydia.
- Sim, é bem melhor: as estrelas têm a mesma paz que os que vivem aqui, mas, além disso, e como foram generosos na vida, têm o privilégio de continuar a assistir à vida cá de cima. Vêem a Terra à distância, mas como se lá estivessem. Vêem aqueles que amavam e que deixaram lá em baixo, vêem as montanhas e as planícies, sentem o calor do Sol, o cheiro do mar e o perfume das flores, ouvem a música que vem da Terra, sentem os sabores sem terem de comer, sentem a extrema felicidade de assistir a tudo sem angústias e sem medo de morrer, porque já estão mortos, embora continuem a desfrutar à distância desse milagre cósmico que é a vida no planeta Terra.
Lydia ficou uns instantes a pensar no que tinha ouvido. Lembrou-se então do seu pai, que morrera dois anos antes e que fora um homem bom e o mais justo que ela conhecera em toda a sua vida.
Miguel Sousa Tavares, O Planeta Branco, Oficina do Livro, pag. 73 e 74.