terça-feira, 18 de agosto de 2009

Reabilitar, requalificar e descaracterizar



Fala-se , ouve-se , diz-se que a Av. Nuno Álvares sofrerá alterações.
Não é a minha área mas, como refere Walt Whitman, "o que quer que interesse aos outros, também me interessa".

Até onde pode ir a reabilitação e a requalificação que se transforma em descaracterização ?

A Av. Nuno Álvares, em Castelo Branco, é uma das poucos obras, se não a única, que merece ser integrada no Inquérito à Arquitectura do sec. XX, da Ordem dos Arquitectos. Data de 1940 e é da autoria de António Emídio Abrantes.

A Av. Nuno Álvares, para além deste valor, é para mim, e para muitos beirões, essencialmente, uma avenida de afectos: esperas, longas esperas da pessoa amada, à porta do liceu, de desespero nas partidas (a CP está logo ali), para locais distantes, a tropa, a guerra do ultramar, o trabalho em Lisboa ou França, as férias, encontros e desencontros, um café com os amigos.
Fazem aqui sentido os versos de João Roiz :
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Lamento que os bancos já se vão degradando, que os canteiros sirvam de local aos excrementos dos animais de estimação, que as papeleiras não existam ou sejam colocadas algumas já usadas, que alguns edifícios estejam tão degradados…

Mas continua a ser a Avenida mais bonita de Castelo Branco.

Reabilitem, requalifiquem, como quiserem. Mas não a descaracterizem, por favor.

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